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Os Boxtrolls



Gênero: Animação
Direção: Anthony Stacchi, Graham Annable
Roteiro: Adam Pava, Alan Snow, Irena Brignull
Elenco: Ben Kingsley, Dee Bradley Baker, Fred Tatasciore, Jared Harris, Nick Frost, Nika Futterman, Pat Fraley, Richard Ayoade, Steve Blum, Tracy Morgan
Produção: David Bleiman Ichioka, Travis Knight
Montador: Edie Ichioka ACE
Trilha Sonora: Dario Marianelli
Duração: 94 min.
Ano: 2014
País: Estados Unidos
Cor: Colorido
Estreia: 02/10/2014 (Brasil)
Distribuidora: Universal Pictures
Estúdio: Bluegrass Films / Focus Features / Laika Entertainment




Eu não tenho o costume de assistir a filmes de animação. Não que haja qualquer preconceito ou resistência da minha parte em relação a eles: pelo contrário, sempre cogito incluir "A espada era a lei" (1963) nas listas de melhores filmes que já vi, e fiz questão de comprar, depois de adulto, as coleções de alguns desenhos que me encantaram na infância e na pré-adolescência, como "Galaxy Rangers – As aventuras dos Cavaleiros da Galáxia" (1986).

Por acaso, ou por priorizar outras obras, acabei não assistindo a qualquer dos episódios de "Toy Story" ou de "A Era do Gelo" e, mais recentemente, não fui dos felizes a correr para assistir a "Frozen" (2013) - e embora não tenha visto "Meu malvado favorito 2", a mera menção da música-tema, de Pharrel Wiliams me faz querer assassinar alguém. Por outro lado, me encantei com a retomada dos longa-metragens da Disney desde o final da década de 1980, com "A Pequena Sereia" (1989), "A Bela e a Fera" (1991) e, principalmente, "Rei Leão" (1994) e "O Corcunda de Notre-Dame" (1996). Morri de rir com Shrek (2001) e suas continuações, também não fui imune à diversão oferecida pela Disney-Pixar com "Procurando Nemo" (2003) e "Os Incríveis" (2004), e concordo que WALL-E (2008) mereça todo o incenso que lhe foi destinado. Também voei com o Soluço em Como treinar o seu dragão (2010), mas, até o momento, não tive oportunidade de seguir suas aventuras, na continuação, de 2014.

Mas, reitero, não sou um consumidor assíduo de longas de animação. Creio que me atraiam mais aqueles com um pezinho gótico-sobrenatural, como "O Estranho Mundo de Jack" (1993), "A Noiva Cadáver" (2005), "Coraline" (2009) e "Frankenweenie" (2012), todos eles escritos – surpresa! – por Tim Burton.

Tudo isso para dizer que eu admito ter uma base de comparação relativamente frágil para analisar filmes de animação. Em um rascunho de teoria bem rasa, um bom longa de animação voltado primordialmente para crianças (e digo isso para diferenciar de outras produções – especialmente europeias e orientais – que tem outro público-alvo),  deve ser divertido, passar boas mensagens para a formação da visão de mundo da criança, e ser tecnicamente interessante, em termos visuais. Caso consiga, além disso, ter camadas de interpretação sutis, identificáveis apenas aos adultos ou aos miúdos, ao assistir à obra novamente, mais velhos, é quase certo que estejamos falando de um futuro clássico.

Aproveitando os deveres de padrasto – que, em si, já é uma função quase cartunesca – assisti a "Os Boxtrolls" (2014). Baseado no livro "A gente é monstro" (Here be monsters!, 2005), escrito e ilustrado por Alan Snow, o filme conta a história de Pontequeijo, cidade na qual a população se recolhe cedo na noite, com medo dos Boxtrolls, seres que saem do subterrâneo, com suas caixas, à noite, para roubar objetos e – para desespero de todos – até um bebê recém-nascido. Para se livrar dessa praga, a elite da cidade – que gasta todo o tempo supostamente destinado a resolver os problemas locais em degustações de queijos requintados – contrata Arquibaldo Surrupião, que promete exterminar os Boxtrolls em troca de um "chapeu branco" – que, na hierarquia da cidade, garante um lugar no conselho de comedores de queijo. O protagonista da história é Ovo - justamente o bebê levado a morar com os Boxtrolls e por eles criado até a adolescência. Não precisa ser muito genial para descobrir que os deliciosos monstrinhos não são nada monstruosos, e que uma das linhas do filme será justamente redimir a imagem dos Boxtrolls junto à população da cidade.

Não é, de fato, a mais original das histórias. A questão da monstruosidade enganosa remete, por exemplo, à Parada dos Monstros (Freaks, 1932), e Mogli e Tarzan, entre outros, já traziam um bebê humano criado fora de seu ambiente social. Em compensação, em "Os Boxtrolls", o tratamento dado aos temas do filme é muito bom. Temos a ambição social de Surrupião – que, ver-se-á, é completamente irracional, por suas próprias limitações pessoais; a facilidade com que a população abraça medos e muda de opinião, dependendo de quem fala mais alto na praça; as relações de paternidade, entre aquele que gere e aquele que cria; e o momento em que os temores têm de ser superados e encarados. Há espaço até para uma impagável dupla de coadjuvantes existencialistas, que passam o filme se questionando se seus atos correspondem ao lado dos mocinhos ou dos bandidos. Somado a isso tudo, cenas de ação divertidas, uma contraparte feminina ruiva para nosso heroi e, como bônus, uma estética vitoriana com fortes flertes com o steampunk em diversos momentos (ainda que bem mais contida que no seu romance de origem).

Realizado pela companhia Laika, especializada na técnica de stop-motion 3D, e responsável também por ParaNorman (2012) e pelo já citado Coraline (o que me faz pensar que a empresa escolhe muito bem o que vai fazer), o filme não deixa a dever tem termos técnicos (e recomendo aguardar uma cena pós-créditos que homenageia belamente o trabalho dos animadores. Se você ainda pensa em Mio e Mao, ou naquelas massinhas disformes, quando pensa em stop motion, saiba que as coisas evoluíram um pouco.

A experiência de ir ao cinema em um sábado à tarde em uma sessão dublada (que me impediu de ouvir Sir Ben Kingsley certamente dando show como Surrupião) é um trauma que eu deixarei para contar em minhas memórias. Ao menos o filme valeu – e muito – à pena. Deixe sua caixinha e vá assisti-lo.

Em tempo: a música tema dos Boxtrolls foi composta por ninguém menos que Eric Idle (do lendário grupo inglês Monty Python).



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