BOYHOOD - DA INFÂNCIA À JUVENTUDE


Gênero: Drama
Direção: Richard Linklater
Roteiro: Richard Linklater
Elenco: Andrew Villarreal, Bonnie Cross, Charlie Sexton, Elijah Smith, Ellar Coltrane, Ethan Hawke, Jamie Howard, Libby Villari, Lorelei Linklater, Marco Perella, Mark Finn, Patricia Arquette, Ryan Power, Shane Graham, Sharee Fowler, Steven Chester Prince, Tess Allen
Produção: Cathleen Sutherland, John Sloss, Jonathan Sehring, Richard Linklater
Fotografia: Lee Daniel, Shane F. Kelly
Montador: Sandra Adair
Trilha Sonora: IFC Productions
Duração: 165 min.
Ano: 2014
País: Estados Unidos
Cor: Colorido
Estreia: 30/10/2014 (Brasil)
Distribuidora: Universal Pictures
Estúdio: Detour Filmproduction / IFC Productions
Classificação: 14 anos


Sinopse: Em tom semidocumental, o filme narra vida de Mason dos 6 aos 18 anos de idade, retratando os primeiros amores, os conflitos em família, a mudança de escola e o sentimento constante de desgosto e admiração pela vida e pelos pais.


Nota do razão de Aspecto:

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Mesmo antes do lançamento de Boyhood, a produção cinematográfica de Richard Linklater já lhe reservava o lugar de um dos diretores mais interessantes da nossa geração, devido à  sensibilidade de suas obras e à inteligência dos diálogos em seus roteiros. Somente a trilogia formada por Antes do Amanhecer, Antes do Pôr-do-sol e Antes da Meia Noite já dispensaria qualquer outro trabalho para que Linklater fosse reconhecido no mundo do cinema. Então, ele escreveu e dirigiu Boyhood. 

Ao contrário de seus principais concorrentes às grandes premiações de 2015, especialmente ao Oscar, Boyhood não se destaca pela exuberância visual, pela perfeição estética ou pela originalidade do roteiro baseada na fantasia. Em Boyhood, a realidade destaca-se em detrimento da ficção, e a linguagem metadocumental destaca-se em detrimento da inventividade. O resultado é um filme original, inteligente, envolvente e perfeitamente executado.

Se nos perguntassem o que acontece em Boyhood, a resposta seria muito difícil ou, ao mesmo tempo, muito simples: "não consigo resumir" ou "não acontece nada de especial", o que indicaria uma história lenta e entediante.  Engana-se quem acredita nesse argumento. Em Boyhood, acontece tudo e nada, pouco e muito, aventuras e desventuras, enfim, acontecem coisas simples e inexoráveis: a vida e os efeitos da passagem do tempo. Ao longo da projeção, o espectador fica esperando o momento da virada. Haverá alguma tragédia, algum drama pesado, alguma mudança de rumos que levará os personagens à redenção, pensam. Essa virada nunca acontece, mas, ao mesmo tempo, percebe-se que ela não faz falta. Trata-se de um anticlichê de roteiro que teria tudo para tornar o filme rejeitado por público e crítica, mas que, de forma contraintuitiva, mostra-se mais eficiente do que qualquer outra fórmula narrativa.

Ao longo de suas quase três horas de duração, Boyhood mantém ritmo constante, o que torna completamente natural a percepção da passagem do tempo por parte do espectador. Assistimos ao crescimento de Mason, compartilhamos seu ponto de vista sobre a  relação dos pais, presenciamos suas dificuldades de convivência com os padrastos alcoólatras, acompanhamos o amadurecimento de sua irmã, de sua mãe e de seu pai sem que seja possível sequer perceber o salto temporal em uma narrativa completamente orgânica.

Além da direção, do roteiro e da montagem, as atuações de Patrícia Arquete e Ethan Hawke sobressaem em Boyhood, ao representarem de forma tão eficiente os dilemas da juventude, as más escolhas e o amadurecimento de pais jovens e com muitas dificuldades materiais e emocionais. As indicações ao Oscar de melhor atriz e melhor ator coadjuvante são mais do que justas: reconhecem a qualidade de um trabalho dedicado na construção de personagens complexos ao longo dos doze anos de produção do filme.

Ao optar por filmar Boyhood ao longo de doze anos com o mesmo elenco, Richard Linklater assumiu grandes riscos, por se tratar de uma ideia simples de conceber, mas de difícil execução. Muitas coisas podiam dar errado ao longo de mais de uma década, mas Linklater não se intimidou.  Dos grandes riscos assumidos, resultou aquela que se pode definir como a obra prima do diretor. A verossimilhança de Boyhood a torna uma epopeia cinematográfica da vida das pessoas comuns, com a simplicidade  e originalidade que somente as ideias mais geniais conseguem conciliar.




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