Pular para o conteúdo principal

DESERTO (2016) - MELHOR FILME DO FESTIVAL DE BRASÍLIA



Gênero: Drama
Direção: Guilherme Weber
Roteiro: Guilherme Weber e Ana Paula Maia
Elenco:  Lima Duarte, Cida Moreira, Everaldo Pontes, Márcio Rosario, Fernando Teixeira, Magali Biff, Claudinho Castro e Pietra Pan 
Produção: Vania Catani
Fotografia: Rui Poças
Direção de arte: Renata Pinheiro
Cenografia: Karen Araújo
Figurino: Kika Lopes
Trilha sonora: Luiz A. Ferreira e Rodrigo Barros Del Rei 
Duração: 100 min.
Ano: 2016
País: Brasil
Cor: Colorido
Estreia: 26/09/2016 (Festival de Brasília do Cinema Brasileiro)
Classificação: 14 anos

Sinopse: Pequeno grupo de artistas viaja pelo sertão brasileiro apresentando um espetáculo. Ao chegar num pequeno vilarejo, descobre uma cidade abandonada, casas, igreja e uma fonte que jorra água limpa. Cansados e combalidos da vida errante, os artistas decidem se instalar no vilarejo e fundar uma nova comunidade.

Nota do Razão de Aspecto:


Que filme. Que filme. Que filme.

Quem acompanha o Razão de Aspecto sabe que é raro uma declaração tão explícita na abertura de uma crítica, mas "Deserto", primeiro longa de Guilherme Weber, causa esse tipo de reação. 

Livremente inspirado na obra "Santa Maria do Circo", de David Toscana, "Deserto" mostra a saga de uma pequena trupe circense, que vaga pelo sertão em busca de seu público, cumprindo a profissão de fé de "ir aonde o povo está", nas palavras de Milton Nascimento e Fernando Brant.



Desde os primeiros minutos do filme, a fotografia de Rui Poças (diretor de fotografia e cineasta português, em seu primeiro longa brasileiro) arrebata o espectador. Os planos abertos, a luminosidade e a aridez inclemente do sertão contrastando com as roupas ao mesmo tempo escuras e extravagantes do circo. Também desde os primeiros minutos, o espectador passa a se importar com o destino daquela gente simples de vida, e rica de alma artística.


Quando chegam a uma pequena vila abandonada, mas que oferece água e teto, as relações de identidade e poder entre os membros começam a ser modificadas e subvertidas, em razão dos papéis ocupados na construção da nova etapa de suas vidas.

Nesse momento, a fotografia muda, mostrando interiores mais escuros, em ambientes quase sem objetos, deixando o foco em peças de uma casa que representam pequenos prazeres reencontrados, como uma cama ou uma privada de louça - objeto de fetiche de um dos personagens. O filme reforça seu ar de teatro, sem deixar de ser cinema muito bem feito. Fica a vontade de ter posteres de diversos frames do filme. 

A estrutura de roteiro lembra um pouco "Dogville" (2003), resultando em um produto final que evidencia a intenção de revelar a natureza do ser humano. Resulta numa espécie de "O auto da compadecida" se fosse dirigido por Lars von Trier.


As interpretações são excelentes, com destaque para Cida Moreira. Magali Biff se entrega a uma personagem trágica, gótica em pleno sertão, que causa - como todos os personagens - um misto de pena e repulsa, de identificação e rejeição. Nesse aspecto, há ecos do "Freaks", de 1932, obra prima de Tod Browning.

O filme é uma ode ao teatro, à arte - e o monólogo de Lima Duarte logo no primeiro ato do filme, entra para as mais belas e doloridas passagens sobre o fazer artístico já vistas em telas de Pindorama. Ao mesmo tempo, mostra-se com profunda inteligência e de forma impiedosa a formação, os preconceitos, as perversões e perversidades da sociedade brasileira. Está tudo lá: racismo, machismo, homossexualidade...  Tudo explicitado, sem precisar de bravatas ou de falas de ódio.


Os diálogos permitem-se misturar citações de peça de teatro clássicas e exclamações quixotescas sobre a arte e a vida, por um lado, e afirmações dolorosamente verdadeiras sobre ações e omissões dos diversos atores sociais do Brasil. Tudo isso filmado com ares de Tim Burton, meio onírico, meio deslocado da realidade, mesmo que cercado pelo ambiente empoeirado de uma cidade sertaneja. Com isso, o filme torna-se a um tempo local e universal.

"Deserto" é um filme extremamente lírico e poético, ao mesmo tempo que funciona como espelho indesejado de nossa sociedade injusta. É o melhor filme brasileiro em muitos anos, e merece ter reconhecimento nacional e internacional. Para quem gosta de Cinema, e não apenas de ver filmes, é obrigatório. 




Por D.G Ducci e Maurício Costa



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Moana - Um Mar de Aventuras (2016) - Crítica

Moana traz elementos novos, mas deixa a desejar na história... Gênero: Animação Direção: John Musker, Ron Clements Roteiro: John Musker, Ron Clements, Taika Waititi Elenco (dublagem original): Alan Tudyk, Auli'i Cravalho, Dwayne Johnson Produção: Osnat Shurer Montador : Jeff Draheim Trilha Sonora: Lin-Manuel Miranda, Mark Mancina, Opetaia Foa'i Duração: 107 min. Ano: 2016 País: Estados Unidos Cor: Colorido Estreia: 05/01/2017 (Brasil) Distribuidora: Walt Disney Pictures Estúdio: Walt Disney Animation Studios / Walt Disney Pictures Classificação: Livre Sinopse:  Moana Waialiki é uma corajosa jovem, filha do chefe de uma tribo na Oceania, vinda de uma longa linhagem de navegadores. Querendo descobrir mais sobre seu passado e ajudar a família, ela resolve partir em busca de seus ancestrais, habitantes de uma ilha mítica que ninguém sabe onde é. Acompanhada pelo lendário semideus Maui, Moana começa sua jornada em mar aberto, onde enfrenta terríveis c...

Sete psicopatas e um Shih Tzu - Netflixing

Pegue a violência extrema como instrumento de sátira, a moda Tarantino. Misture com um estilo visual e escolha de cenários que lembram os irmãos Coen. Dose com pitadas de neurose Woddy Allen e surrealismo David Lynch. E temos a receita para Sete psicopatas e um Shih Tzu . Gênero:   Comédia Direção:  Martin McDonagh Roteiro:  Martin McDonagh Elenco:  Abbie Cornish, Amanda Mason Warren, Andrew Schlessinger, Ante Novakovic, Ben L. Mitchell, Bonny the ShihTzu, Brendan Sexton III, Christian Barillas, Christine Marzano, Christopher Gehrman, Christopher Walken, Colin Farrell, Frank Alvarez, Gabourey Sidibe, Harry Dean Stanton, Helena Mattsson, James Hébert, Jamie Noel, John Bishop, Johnny Bolton, Joseph Lyle Taylor, Kevin Corrigan, Kiran Deol, Linda Bright Clay, Lionel D. Carson, Long Nguyen, Lourdes Nadres, Michael Pitt, Michael Stuhlbarg, Olga Kurylenko, Patrick O'Connor, Richard Wharton, Ricky Titus, Ronnie Gene Blevins, Ryan Driscoll, Sam B. Lorn,...

É Fada (2016) - Crítica

É Fada traz o primeiro filme com a youtuber Kéfera Buchmann . Gênero: Comédia Direção: Cris D'amato Roteiro: Bárbara Duvivier, Fernando Ceylão, Sylvio Gonçalves Elenco: Alexandre Moreno, Angelo Gastal, Aramis Trindade, Bruna Griphão, Carla Daniel, Charles Paraventi, Christian Monassa, Clara Tiezzi, Cláudia Mauro, Kéfera Buchmann, Klara Castanho, Lorena Comparato, Luisa Thiré, Marcelo Escorel, Mariana Santos, Narjara Turetta, Paulo Gustavo, Raul Labancca, Silvio Guindane Produção: Daniel Filho Fotografia: Felipe Reinheimer Montador: Diana Vasconcellos Trilha Sonora: Guto Graça Mello Duração: 85 min. Ano: 2016 País: Brasil Cor: Colorido Estreia: 06/10/2016 (Brasil) Distribuidora: Imagem Filmes Estúdio: Globo Filmes / Lereby Produções Classificação: 12 anos Informação complementar: Livremente inspirado em: "Uma fada veio me visitar" (2007), de Thalita Rebouças Sinopse:  Geraldine (Kéfera Buchmann) é uma atrapalhada fada que precisa p...