Pular para o conteúdo principal

A MALDIÇÃO DA FLORESTA (THE HALLOW, 2015) - CRÍTICA


Se você quer um filme de terror fora das fórmulas de Hollywood, este é o filme certo para você.

Nome Original: The Hallow
País: Irlanda
Ano: 2015
Elenco: Joseph Mawle – Adam
Bojana Novakovic – Clare
Michael McElhatton – Colm Donnelly
Michael Smiley – Garda Davey
Gary Lydon – Doyle
Wren Hardy – Jovem Finn
Direção: Corin Hardy
Gênero: Terror
Duração: 97 min.
Distribuidora: Playarte Pictures
Orçamento: US$ 10 milhões
Estreia: 6 de outubro de 2016

Sinopse: O longa conta a história de uma família inglesa que vai morar em uma parte isolada da Irlanda. O intuito do pai é estudar a floresta para futuras construções. Mas sua ação acaba perturbando seres demoníacos que vivem no local e começam uma série de ataques contra a família.


Nota do Razão de Aspecto:
SIN

-------------------------------------------------------------------------------------------------------

Sinto-me obrigado a começar este texto com um protesto contra o título genérico escolhido para o lançamento de The Hallow no Brasil: A Maldição da Floresta. Além de ser um título genérico, causa confusão com o medíocre Floresta Maldita- que sequer foi lançado nos cinemas brasileiros - e comete o erro de investir em um público que procura filmes de terror no padrão de Hollywood. O resultado dessa escolha estúpi..., digo, equivocada será, possivelmente, a rejeição do público ao filme. A Maldição da Floresta tem um nicho de público muito específico.

Lançado no Festival de Sundance 2015, ao lado do excelente A Bruxa, A Maldição da Floresta investe na linguagem narrativa e visual do cinema de terror independente, sem se utilizar dos famosos jump scares gratuitos o dos diálogos expositivos, que subestimam a inteligência do espectador. A narrativa não perde tempo: o primeiro ato é curto, estabelece o contexto (a decisão de privatizar uma floresta e cortar várias de suas árvores), apresenta os protagonistas (o casal, com um filho recém nascido, que chega à floresta para avaliar que árvores devem ser derrubadas, a mando da empresa proprietária), e apresenta as criaturas floresta, baseadas na mitologia Celta e em contos do folclore irlandês. Desse ponto em diante, o filme mergulha no suspense e no terror, para culminar no último ato gore.

A premissa básica do filme é simples: Alan é um cientista que menospreza os avisos do moradores locais para não entrar na floresta: se você invadi-la, as criaturas da floresta invadirão a sua casa. Apesar da descrença e da falta de cautela de Adam, o filme não se preocupa em criar mistério. O espectador sabe o tempo todo que as criaturas existem. Assim como em A Bruxa, cria-se uma tensão muito forte, porque podemos antecipar as consequências dos atos de Adam para a sua família, especialmente para o seu filho recém nascido.


A Maldição da Floresta tem boas sequências de suspense na primeira metade, quando percebemos a existência das criaturas, mas ainda não sabemos quem e como são, e boas sequências de terror, especialmente quando do cerco da casa e da tentativa de invasão - em um eco muito interessante da melhor cena de Sinais. Na sequência final, o terror depende de quanto o espectador gosta de filmes gore e de quanto está disposto a relevar alguns problemas nos efeitos visuais. Embora as criaturas sejam construídas com maquiagem, o CGI prejudica alguns pontos chave de cenas que deviam ser apavorantes. Para um filme de baixo orçamento, o resultado é bom: as criaturas assemelham-se muito com àquelas do folclore irlandês (e não publicarei a comparação para não estragar a experiência). 

O roteiro e a direção são competentes, ainda que a mudança de tom do segundo para o terceiro ato possa incomodar o público desavisado. O fato de não recorrer a didatismos desnecessários e a diálogos expositivos é uma grande qualidade (haverá que diga que há controvérsias), porque se concentra naquilo que um filme de terror precisa se concentrar: em causar medo. Pensemos juntos: se, em uma situação real, ficamos com medo de algo que não sabemos exatamente o que é, porque as explicações seriam tão importante em um filme?

A direção de arte do filme é particularmente interessante na construção do ambiente interior da casa na floresta, combinada com uma fotografia que investe nas penumbra dos ambientes internos, com a claridade acinzentada dos ambientes externos, durante o dia, e da escuridão completa, durante a noite, formando um contraste que contribui para a construção da tensão.

Jose Mawle (Adam) e Bojana Novakovic (Claire) fazem um bom trabalho de interpretação, ao nos fazerem dar importância para os seus destinos e, principalmente para o do bebê. O medo, a confusão e o terror dos personagens no último ato é convincente, apesar dos exageros do gore. 


Neste ponto, temos de fazer uma concessão: A Maldição da Floresta assume sua linguagem e seus objetivos. Se o público vai ou não gostar do resultado, depende do quanto está disposto a ter uma experiência narrativa e visual pouco convencional no circuito comercial.




Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Moana - Um Mar de Aventuras (2016) - Crítica

Moana traz elementos novos, mas deixa a desejar na história... Gênero: Animação Direção: John Musker, Ron Clements Roteiro: John Musker, Ron Clements, Taika Waititi Elenco (dublagem original): Alan Tudyk, Auli'i Cravalho, Dwayne Johnson Produção: Osnat Shurer Montador : Jeff Draheim Trilha Sonora: Lin-Manuel Miranda, Mark Mancina, Opetaia Foa'i Duração: 107 min. Ano: 2016 País: Estados Unidos Cor: Colorido Estreia: 05/01/2017 (Brasil) Distribuidora: Walt Disney Pictures Estúdio: Walt Disney Animation Studios / Walt Disney Pictures Classificação: Livre Sinopse:  Moana Waialiki é uma corajosa jovem, filha do chefe de uma tribo na Oceania, vinda de uma longa linhagem de navegadores. Querendo descobrir mais sobre seu passado e ajudar a família, ela resolve partir em busca de seus ancestrais, habitantes de uma ilha mítica que ninguém sabe onde é. Acompanhada pelo lendário semideus Maui, Moana começa sua jornada em mar aberto, onde enfrenta terríveis c...

Sete psicopatas e um Shih Tzu - Netflixing

Pegue a violência extrema como instrumento de sátira, a moda Tarantino. Misture com um estilo visual e escolha de cenários que lembram os irmãos Coen. Dose com pitadas de neurose Woddy Allen e surrealismo David Lynch. E temos a receita para Sete psicopatas e um Shih Tzu . Gênero:   Comédia Direção:  Martin McDonagh Roteiro:  Martin McDonagh Elenco:  Abbie Cornish, Amanda Mason Warren, Andrew Schlessinger, Ante Novakovic, Ben L. Mitchell, Bonny the ShihTzu, Brendan Sexton III, Christian Barillas, Christine Marzano, Christopher Gehrman, Christopher Walken, Colin Farrell, Frank Alvarez, Gabourey Sidibe, Harry Dean Stanton, Helena Mattsson, James Hébert, Jamie Noel, John Bishop, Johnny Bolton, Joseph Lyle Taylor, Kevin Corrigan, Kiran Deol, Linda Bright Clay, Lionel D. Carson, Long Nguyen, Lourdes Nadres, Michael Pitt, Michael Stuhlbarg, Olga Kurylenko, Patrick O'Connor, Richard Wharton, Ricky Titus, Ronnie Gene Blevins, Ryan Driscoll, Sam B. Lorn,...

É Fada (2016) - Crítica

É Fada traz o primeiro filme com a youtuber Kéfera Buchmann . Gênero: Comédia Direção: Cris D'amato Roteiro: Bárbara Duvivier, Fernando Ceylão, Sylvio Gonçalves Elenco: Alexandre Moreno, Angelo Gastal, Aramis Trindade, Bruna Griphão, Carla Daniel, Charles Paraventi, Christian Monassa, Clara Tiezzi, Cláudia Mauro, Kéfera Buchmann, Klara Castanho, Lorena Comparato, Luisa Thiré, Marcelo Escorel, Mariana Santos, Narjara Turetta, Paulo Gustavo, Raul Labancca, Silvio Guindane Produção: Daniel Filho Fotografia: Felipe Reinheimer Montador: Diana Vasconcellos Trilha Sonora: Guto Graça Mello Duração: 85 min. Ano: 2016 País: Brasil Cor: Colorido Estreia: 06/10/2016 (Brasil) Distribuidora: Imagem Filmes Estúdio: Globo Filmes / Lereby Produções Classificação: 12 anos Informação complementar: Livremente inspirado em: "Uma fada veio me visitar" (2007), de Thalita Rebouças Sinopse:  Geraldine (Kéfera Buchmann) é uma atrapalhada fada que precisa p...