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Nada de oculto em Beleza Oculta

Beleza oculta é um filme repleto de contradições. Consegue ser previsível e inverossímil, ter péssimas atuações de ótimos atores e diálogos grandiosos que nada dizem. 
Gênero: Comédia Dramática
Direção: David Frankel
Roteiro: Allan Loeb
Elenco: Alyssa Cheatham, Ann Dowd, Edward Norton, Helen Mirren, Jacob Latimore, Kate Winslet, Keira Knightley, Kylie Rogers, Liza Colón-Zayas, Michael Peña, Naomie Harris, Natalie Gold, Shirley Rumierk, Will Smith
Produção: Allan Loeb, Anthony Bregman, Bard Dorros, Kevin Scott Frakes
Fotografia: Maryse Alberti
Montador: Andrew Marcus
Trilha Sonora: Theodore Shapiro
Duração: 97 min.
Ano: 2016
País: Estados Unidos
Cor: Colorido
Estreia: 26/01/2017 (Brasil)
Distribuidora: Warner Bros.
Estúdio: Anonymous Content / Likely Story / Overbrook Entertainment / PalmStar Media / Village Roadshow Pictures
Classificação: 10 anos

Sinopse: um publicitário perde sua filha e se isola do mundo. Enquanto seus sócios e empregados tentam ajudá-lo e salvar sua empresa da falência, ele escreve cartas para a Morte, o Amor e o Tempo. Supreendentemente ele recebe respostas de suas cartas, pessoalmente.


Nota do Razão de Aspecto:
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Seres humanos são coisas incrivelmente complexas. Cada um de nós carregamos uma miríade de emoções, conflitos, incoerências e contradições que para descrever uma pessoa, qualquer pessoa, de forma adequada, gastaríamos livros e livros.

Uma das grandes dificuldades de se contar uma boa história, seja em livros, filmes, séries, peças ou qualquer outra forma de ficção é carregar esta riqueza que cada pessoa tem para personagens que possam ser inseridos em uma história. Afinal ao contarmos uma história temos que fazer o enredo andar de forma coerente e interessante, mas a história deve ser conduzida por personagens humanos, incoerentes, caóticos e confusos.

Beleza oculta comete um único erro, mas de forma tão esplendorosa que afunda a narrativa como um todo. O filme é deslumbrado com sua própria história, e sacrifica a humanidade de seus personagens para que a trama funcione de forma fechada e orgânica. 

O desenrolar da trama parece aquelas montagens de dominós, onde todas as peças se organizam e se encaixam de tal forma que ao se derrubar a primeira, tudo desaba, de forma mecânica, previsível, e tediosa.


Os personagens, como peças de dominó, se limitam a um único movimento. Todos os personagens podem ser descritos plenamente em uma única frase, um único conflito, um único elemento. 

Isto explica um dos vários paradoxos do filme. Ele é absolutamente previsível, mas ao mesmo tempo inverossímil. Temos três grandes reviravoltas na história, mas todas as três são tão preparadas e explicadas que conseguimos prevê-las em apenas alguns minutos de filme. E a resolução delas são tão simplórias e estúpidas que passamos o filme torcendo para que outras soluções se apresentem, em vão, deixando uma sensação de que a realidade jamais seria tão boçal.

Se não bastasse isto, a grandiloquência do filme só se rivaliza com sua superficialidade. Três dos personagens são, ou parecem ser, a personificação da Morte, do Amor e do Tempo. Mas de acordo com o desenrolar da história, estes três princípios cósmicos estão ali para convencer aos personagens humanos a ter desejo pela vida, e isto através de diálogos sobre conflitos psicológicos.

Daí se percebe que a importância dos diálogos para a trama se sustentar é primordial. Infelizmente todos os diálogos são uma mistura de filosofia de boteco, frases de biscoito da sorte e textos de auto-ajuda. Frases como "o tempo é uma dádiva", "o amor é a essência da vida" e outras obviedades vazias são ditas como frases de sabedoria e profundidade.

Não bastasse isto, diversos personagens tomam decisões moralmente questionáveis, como enganar um amigo íntimo e convence-lo que ele está enlouquecendo. Em nenhum momento este caminho extremo é questionado, pois todos estão ocupados demais em ser um problema linear e banal, para que os dominós possam cair no final.

Não há como negar que temos no elenco diversos atores de renome e de talento, mas mesmo os melhores atores do mundo pouco podem fazer quando seus personagens são fracos. Will Smith nos mostrou que sabe fazer um bom drama em A busca da felicidade, mas aqui ele apenas é um deprimido paralisado a ponto da afasia, apatia e niilismo. É o único personagem que completa algum arco dramático, mas com o final mais forçado e inverossímil do filme. Kate Winslet (de Brilho eterno de uma mente sem lembranças) é uma mulher chorona deprimida por estar velha demais e solteira demais para engravidar. Edward Norton (de Birdman) tem alguns minutos de humor sutil no início do filme, mas se perde na banalidade de seu personagem mulherengo ao tentar conquistar o Amor de Keira Knightley (de O jogo da imitação), que está ali perdida em sua beleza e intensidade, e esquece de agir de forma não teatral. Para fechar o desperdício de talento interpretativo, Helen Mirren (de Florence: quem é essa mulher) está bastante convincente como uma atriz que se acha talentosa mas é apenas afetada. Pena que esta não seja sua personagem.

Por isto é plenamente merecida a indicação de Beleza Oculta para o Framboesa de Ouro de 2017, na categoria Pior combo em tela, pelo elenco inteiro de antes respeitáveis atores.

 

O elenco de primeira categoria, o tema grandiloquente e a total falta de substância nos faz pensar que o filme seja um produto feito sobre encomenda por aqueles produtores cinematográficos vilanescos de alguma comédia sobre cinema, que acham que para um sucesso de bilheteria bastaria um grande elenco e apelo a emoções baratas e filosofia de auto-ajuda. Roteiro, fotografia, edição, etc, são detalhes que encarecem um meio fácil de ganhar dinheiro.

Talvez agrade aqueles que gostaram de O vendedor de sonhos, mas para a maioria deverá parecer um insulto a riqueza psicológica dos dramas humanos. É raro o tema do luto e da depressão ser tratado de forma tão estereotipada e distorcida. Só havia uma forma da história piorar na pieguice e obviedade: se passar no Natal. E, adivinhe?

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