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Tanna - Romeu e Julieta na Polinésia - CRÍTICA

Tanna talvez seja o filme mais exótico entre todos os indicados ao Oscar de 2017. Concorrendo na categoria de melhor filme estrangeiro, e filmado com a população das tribos de Yakel como elenco, Tanna nos mostra como, às vezes, a história mais regional pode ser também uma história universal. Uma trama estilo Romeu e Julieta, contada por uma tribo que, até a equipe de filmagem iniciar a produção, jamais tinha visto uma câmera.



Gênero: Drama
Direção: Bentley Dean, Martin Butler
Roteiro: Bentley Dean, John Collee, Martin Butler
Elenco: Marie Wawa, Mungau Dain
Produção: Bentley Dean, Carolyn Johnson, Martin Butler
Fotografia: Bentley Dean
Montador: Tania Nehme
Trilha Sonora: Antony Partos
Duração: 100 min.
Ano: 2015
País: Austrália / Vanuatu
Cor: Colorido
Estúdio: Contact Films

Sinopse: Em um dos poucos lugares do mundo onde existe ainda populações vivendo segundo as tradições tribais, uma casal se apaixona. Mas este amor vai contra as tradições de casamentos arranjados.

Nota do Razão de Aspecto:
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Quando se fala em filmes indicados ao Oscar, já criamos um conjunto de expectativas, e a que mais se destaca é que o filme provavelmente terá um certo apelo comercial e um público alvo bem abrangente. Mas, como acontece, por vezes, entre os indicados a melhor filme estrangeiro, Tanna é um filme mais com cara de festivais do que do tapete vermelho de Hollywood.

Assim como Rifle, o elenco deste filme é formado pela população local, nenhum dos atores tem experiência anterior. Se filmar com a população local do interior do Rio Grande do Sul já foi um desafio, imagine as dificuldades de filmar com uma população tribal que vive ainda hoje sem energia elétrica, usando saiotes de capim, vivendo em uma sociedade com tradições orais e sustentada pela caça e pela coleta.


E de forma muito feliz, os diretores e roteiristas optaram por filmar não uma história estrangeira e européia, mas sim uma história local, baseada em fatos reais, que alterou o Kastom, o código de tradições consuetudinário, que rege as sociedades das tribos de Yakel.

Talvez por esta familiaridade com a história contada, o elenco de atores amadores surpreende pela qualidade e sinceridade. às vezes, a interpretação pode parecer pueril em excesso, mas sempre é sincera e bastante emotiva. É difícil não se sensibilizar pelo sorriso de Wawa (interpretada por Marie Wawa) ou pela intensidade e paixão de Dain (interpretado por Mungau Dain). Mas o destaque entre os atores vai para a atriz mirim Marceline Rofit, que interpreta Selin, uma criança que atravessa a trama como testemunha e fiel irmã de Wawa, e que quase se transforma em narradora da trama. Vemos o amor proibido de Wawa e Dain pelos olhos de Selin, e nos entregamos à intensidade e à ingenuidade do olhar infantil.


A fotografia é deslumbrante e onipresente, bem como o figurino. Estamos no meio da floresta, seminus, brandindo armas primitivas e vivendo em uma sociedade de tradições orais. A floresta faz parte da narrativa, bem como o vulcão Yasur, e, de forma menor, a colonização britânica, rejeitada pelos locais em nome de seus antigos costumes.

O som, tanto os efeitos como a trilha, ea linguagem de câmera  são primorosos, em especial nas cenas de suspense, ação e violência. Há diversas corridas pela mata, algumas cenas de luta e outros momentos de tensão capazes de fazer o espectador suar.


Como ponto negativo, destaco uma certa insistência artificial das mulheres, em especial Wawa, em não mostrar os mamilos. Isto ocorreu, provavelmente, para manter sem restrições de censura, mas poderia ter tido uma solução melhor na edição de imagens. Diversas vezes, vemos a atriz adotar posições artificiais de braços e mãos para ocultar os seios.

Alem disto, há um certo tom de documentário, em alguns momentos, certas cenas que parecem estar lá mais para mostrar os exóticos costumes locais do que para dar continuidade à trama.

No final, nos apaixonamos pela história de amor proibido, em um estilo misto entre Shakespeare e folclore tribal. E pelo sorriso de Wawa, maior que todas as fronteiras do mundo.


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