A CAPITAL DOS MORTOS 2: MUNDO MORTO


Direção: Thiago Belotti
Roteiro: Thiago Belotti
Produção Executiva: Thiago Belotti e Tiago Esmeraldo
Produção: Tiago Esmeraldo
Música: Tiago Esmeraldo e Muhr
Fotografia: Gabi Cerqueira
Montagem: Tiago Esmeraldo
Elenco:Lorena Aloli, Gustavo Serrate, Jessica Vasconcellos, Marília Mangueira, Morgana Santos Gama


Sinopse: Em A Capital dos Mortos, iniciou-se a tomada da cidade de Brasília por mortos vivos sedentos por sangue. Cinco anos depois, Lucas une forças com a traumatizada Denise. Juntos, eles tentam manter a sanidade e sobreviver num mundo onde há coisas muito mais perigosas que zumbis.






Nota do Razão de Aspecto:


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Para além de Hollywood, do cinema europeu e do cinema independente estadunidense, temos de dar o devido valor ao cinema independente brasileiro, principalmente quando de trata de um filme de gênero como A Capital dos Mortos: Mundo Morto. Um filme de terror sobre zumbis não está exatamente na crista da onda do cinema brasileiro, e a ousadia de produzi-lo merece que o público e a crítica lhe dispensem atenção. Isso não significa que serei condescendente na crítica e que as 3,5/5 estrelas sejam uma nota generosa. Pelo contrário, considerando todas as limitações da produção, o 3,5/5 constitui uma nota que reflete o resultado deste filme denso, tenso e angustiante.

O roteiro de A Capital dos Mortos 2: Mundo Morto é bem construído, por optar por um menor número de diálogos e por apostar na construção da atmosfera opressora daquele mundo desolado, quando acompanhamos a jornada da protagonista interpretada, por Lorena Aloli, e as subtramas dos demais personagens. O primeiro ato é ágil e assustador: o filme nos dá um verdadeiro tapa na cara, ao colocar o espectador na obrigação de compreender a escolha feita já na primeira cena. No segundo ato, a trama quase se perde, quando apresenta novos personagens e aposta em um alívio cômico que soou um tanto artificial. Paradoxalmente, embora esse alívio cômico tenha ficado deslocado, confesso que senti falta de uma proporção maior de comicidade que contribuísse para dar um descanso ao público, desde que esse alívio cômico fosse mais, digamos, orgânico, é claro. No terceiro ato, o filme retoma a força da narrativa e leva o público ao desfecho surpreedente e, ao mesmo tempo, inescapável. Um ponto fraco do roteiro é o uso recorrente de narração, mas devo ponderar que essa fraqueza tem relação com outro ponto fraco do filme, sobre o qual discutirei mais adiante neste texto. A montagem de ritmo acelerado de Tiago Esmeraldo dá uma grande contribuição para que o roteiro de Thiago Belotti funcione como narrativa,  apoiado por uma trilha sonora que mantém o espectador permanentemente atento ao desenvolvimento da ação.

A direção de arte do filme tem suas limitações, mas as limitações do seu resultado são muito menores do que a limitação do orçamento para a produção do filme.  Os zumbis são críveis, assim como o são os efeitos visuais e práticos das cenas violentas. Há problemas que poderiam ter sido evitados, como nas cenas em que se tentou simular o princípio tempestade sobre a imagem de um céu que não correspondia a esse objetivo - o que tira o espectador do filme, em função da artificialidade da imagem- há soluções técnicas, baratas e viáveis, que chegariam a um resultado melhor. De forma geral, os problemas da limitação orçamentária são resolvidos de forma eficiente e inteligente pelos enquadramentos e pelos ângulos de filmagem, demonstrando que a falta de dinheiro não significa incompetência. Quantos filmes hollywoodianos com orçamentos milionários não cometem erros primários, têm direção de arte péssima e se dedicam a contar histórias ruins?

As atuações não são o ponto alto do filme, embora não cheguem a comprometer o desenvolvimento da narrativa. Lorena Aloli e Gustavo Serrate não comprometem na interpretação do núcleo central da trama. Entretanto, é bastante incômoda a narração, porque é evidente para o espectador que aquele texto está sendo lido e não interpretado. A artificialidade da narração compromete o conteúdo do que está sendo narrado, que é fundamental para o entendimento da trama que nos está sendo apresentada na tela do cinema. Nas atuações, destaco a da personagem da mãe em busca de sua filha adolescente, que nos transmite a angústia e o medo mais críveis de todo o elenco.



Neste ponto do texto, você deve estar-se perguntando como o filme recebeu 3/5 se ainda nada foi dito que possa fazer acreditar que se trata de um filme que e destaque. A resposta é simples: deixei o melhor para o final.

As locações do filme são maravilhosas. Que cenário desolado e, ao mesmo tempo, tão Distrito Federal!

Saí da sala de cinema impressionado coma cinematografia de A Capital dos Mortos 2: Mundo Morto. Gabi Cerqueira fez um trabalho magnífico de fotografia na escolha dos planos, dos ângulos e, acima de tudo, do uso que soube fazer luz natural de Brasília em contraste com os ambientes fechados escuros e opressores. A combinação de planos abertos à luz do dia com planos-detalhe da paisagem para a ambientação daquele mundo desolado foi eficiente, competente e esteticamente impressionante. Além disso, Gabi Cerqueira nos premiou com um plano magnífico dos zumbis sob a lua cheia, cujo design preenche a tela do cinema e causa, digamos, uma forte impressão no público. Em 2015, eu já assisti a 404 filmes, e poucos foram planos que me deixaram impressão tão forte. Esta imagem remeteu-me quase imediatamente a alguns planos de Melancolia. Trata-se de trabalho profissional de altíssimo nível, que "puxa pra cima" a qualidade de toda a produção, porque, ao mesmo tempo, constrói a ambientação, eleva a tensão, os enquadramentos ajudam as atuações e, por fim, resolve a maior parte dos problemas da direção de arte. Palmas para Gabi Cerqueira.

Thiago Belotti foi corajoso ao escrever e dirigir esta história de abuso, machismo - sim, no mundo pós-apocalíptico, os homens são ainda mais brutais -, desespero e morte. Belotti fez um bom trabalho de roteiro e direção, apesar de todas as limitações, e levou ao público um filme maduro e consistente na estrutura e na execução. Não há alívio. Ao sair da sessão, cheguei à seguinte conclusão: e se Lars Von Trier resolvesse fazer um filme de zumbis? A Capital dos Mortos 2: Mundo Morto seria um excelente ponto de partida.

Aproveitem e confiram nossa entrevista com o diretor na estréia do filme, no dia 21 de dezembro, curta o vídeo e assine nosso canal no Youtube!



3 comentários:

  1. Oi Maurício . Boas percepções sobre o mundo morto. Segue os créditos corretos. Obrigado




    Título: A capital dos mortos 2: Mundo Morto
    Gênero: Drama, Horror
    Ano: 2015
    Duração: 72

    Classificação Indicativa: 16 anos
     

     
    Direção: Tiago Belotti
    Produção Executiva: Tiago Belotti , Tiago Esmeraldo e Rodrigo Huagha
    Produtor: Tiago Esmeraldo
    Edição e Efeitos Visuais: Tiago Esmeraldo
    Música: Tiago Esmeraldo e Muhr
    Fotografia: Gabi Cerqueira
    Coprodutor e Consultor Criativo: Rodrigo Huagha
    Assistente de Direção: Hugo Casarisi
     
    Elenco:
    Lorena Aloli
    Gustavo Serrate
    Jessica Vasconcellos
    Marília Mangueira
    Morgana Santos Gama
    Nobu Kahi
    Ana Flavia Garcia
    José de Campos 
    Renata Helena 
    Rany Fontenelle
     



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  2. O começo já estabelece as regras de como o jogo vai funcionar: quem são e como se comportam os zumbis. Além das cenas iniciais, tanto a da profecia quanto a do primeiro casal acorrentado, tudo isso serve para demarcar o universo da história e o faz muito bem.
    O primeiro arco, uns 40 minutos de filme, tem poucos diálogos e um certo suspense/terror psicológico que nos deixa mais tensos do que se fosse uma manada de ataques zumbis. Mais um ponto a favor aqui.
    O encontro dos personagens Lucas e Denise, protagonistas do filme, não ficou muito natural. Achei um artifício fraco ela ir exatamente onde ele estava. Posteriormente o mesmo ocorre com outra personagem, que também fica inverossímil.
    Não sou puritano, mas o excesso de palavrões incomodou um pouco. Eles deixaram de ser interjeições bem-vindas para ser tornar vírgulas repetitivas. Já as cenas de nudez considero que foram no tom certo. Estavam ali porque tinham que estar e não de modo gratuito.
    Voltando à dupla, os diálogos deles foram muito bons. Tem-se aqui uma referência ao personagem Lucas no filme um e às perguntas inutilmente interessantes. Além da citação de "Coração Valente". Por tudo isso mostrando que é, de certa forma, um alter ego do próprio Diretor.
    A fotografia tem alguns momentos sublimes, em especial dois: uma cena em tom avermelhado e outra da Lua (nesse momento apontei para a tela, balancei a cabeça e disse: "isso foi bom". Há também a alternância de momentos sombrios com outros cenários em tons mais leves.
    No primeiro filme a trilha sonora estava bem carregada e sentíamos a presença dela constantemente. Aqui o destaque vai para o som. Ajudando bastante a compor, junto com a fotografia, um belo arcabouço audiovisual.
    Há uma cena da personagem (acho que Júlia) com a mãe que é qualquer coisa de sensacional, muitíssimo emocionante, ainda mais se fomos considerar a relação do Lucas com a irmã no primeiro filme. A conversa sobre antropofagia também foi muito boa o jeito que foi resolvida, pra quem viu o making of do primeiro filme entende bem o motivo...
    O ritmo do filme alterna alguns momentos acelerados com alguns arrastados (ambos bem dosados, o que torna o tempo bem administrado e confortável para quem assiste).
    O texto final, apesar de um pouco clichê, propõe uma reflexão pertinente e encerra a obra com uma baita porrada e a sensação de que vimos algo diferente aqui. A trama tem uma pequena barriga no meio do filme e algumas lacunas.
    Claro que não podia deixar de falar dos zumbis: a maquiagem está convincente e a movimentação idem (algo que foi mencionado no começo: eles aqui não são rápidos e nem fortes, opção digna e que funciona). Tem pelo menos um zumbi que aparece de tênis branco e limpo no meio da floresta, pequeno detalhe que não chega a atrapalhar na imersão, porém poderia ser melhor trabalhado.
    "Capital dos Mortos 2: mundo morto": é firme como obra única, apesar de ser uma sequência (e ter referências ao filme pregresso). O tom mais pesado e maduro que o antecessor é um mérito, sem perder o bom humor. A ideia aqui é causar sensações diversas: asco, tensão, suspense e até leveza. Roteiro mais maduro que o primeiro filme, mas ainda pecando em alguns pontos. Bom nível de entretenimento com aspectos técnicos dignos de destaque. Vemos produções muito maiores e que não faz o que foi feito aqui.
    Nota 8

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  3. Primeiramente agradeço as críticas! Sempre me motiva a crescer dentro da minha profissão. Só uma pequena correção em relação ao meu nome artístico que é Aoli e não Eloli. Discordo quando o autor fala que há uma "artificialidade da atuação" pois transitei em vários sentimentos humanos e busquei seguir as orientações da direção, dentre elas, construir uma relação com uma espécie de diário. Interpretar uma leitura não é o mesmo que não interpretar.

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