JOVEM ALOUCADA
Sinopse: Daniela é uma garota de 17 anos que foi criada em uma família evangélica, em Santiago. Por viver em um ambiente opressor, Daniela usa como válvula de escape o envolvimento em diversas aventuras sexuais, as quais compartilha em um blog. Após ser descoberta pelos pais, Daniela sofre as consequências do radicalismo religioso da mãe repressora, o que a leva a uma jornada de autoconhecimento e de questionamento existencial.
Nota do Razão de Aspecto:
Gênero: Drama
Direção: Marialy Rivas
Roteiro: Camila Gutiérrez, Marialy Rivas, Pedro Peirano, Sebastián Sepúlveda
Elenco: Alejandro Goic, Alex Rivera, Alicia Rodríguez, Aline Küppenheim, Andrea García-Huidobro, Camila Hirane, Catalina Saavedra, Felipe Pinto, Franco Bardi, Hernán Lacalle, Ingrid Isensee, Jesús Briceño, Joris Noordenbos, Luis Gnecco, Luka Villalabeitía, María Gracia Omegna, Maria Olga Matte, Moira Miller, Pablo Krögh, Tomás de Pablo
Produção: Juan de Dios Larraín, Pablo Larraín
Fotografia: Sergio Armstrong
Montador: Andrea Chignoli, Sebastián Sepúlveda
Duração: 96 min.
Ano: 2012
País: Chile
Cor: Colorido
Estreia: 31/01/2014 (Brasil)
Distribuidora: Bitelli Filmes / Polifilmes
Estúdio: Fabula
Classificação: 18 anos
*Disponível no Netflix EUA
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Uma
adolescente transgressora que compartilha suas experiências sexuais em um blog.
Uma família repressora. Uma mãe insensível e irracional. Esses três motivos
poderiam indicar mais um filme de abordagem temática adolescente repleta de
diálogos clichês e fórmulas repetitivas de narrativa, mas, felizmente, os
motivos são tratados de forma madura, profunda e ousada. Jovem Aloucada proporciona ao espectador a
oportunidade de conhecer e experimentar a jornada de autoconhecimento de
Danielita (Alicia Rodriguez) como se fosse a própria experiência.
Ainda que
a grande maioria do público não se identifique com o ambiente no qual vive
Danielita, formado por uma família evangélica radical, uma escola evangélica
rígida, e um canal de TV evangélica, no qual Danielita passa a trabalhar,
muitos dos dilemas sexuais da protagonista os mesmos de muitos jovens cujas
referências de valores não correspondem aos seus desejos mais fortes.
Danielita representa a realização daquilo que muitos de nós pensamos ou
desejamos, mas nunca tivemos coragem de experimentar seja por cautela, seja por
mero temor das consequências e do julgamento moral ao qual seríamos submetidos.
Essa empatia leva o público a realmente importar-se com a personagem, mesmo que
não concorde com suas escolhas.
Ao
explorar o amor, a sexualidade e a bissexualidade em confronto com os valores
religiosos que lhe foram ensinados desde criança, Daniela envolve-se num
triângulo amoroso com Antônia e Tomás. Tomás é o namorado perfeito, apaixonado,
aceito pela família. Antônia é amante de Daniela, amiga de Tomás, colega de
trabalho do casal. Daniela ama a ambos. Daniela deseja a ambos. Daniela não
consegue desistir de nenhum dos dois. É possível amar duas pessoas ao mesmo
tempo e desejá-las ao mesmo tempo? A maioria das pessoas diria que não, até que
acompanhassem a jornada de Daniela. Para Daniela, foi possível. Por outro lado,
Daniela não tinha maturidade suficiente para administrar o aprofundamento das
relações, as cobranças, o ciúme, e, principalmente, as consequências da
descoberta de seu blog, que leva o mesmo nome do filme.
O maior
mérito do roteiro de Camila Gutiérrez,
Marialy Rivas, Pedro Peirano e Sebastián Sepúlveda foi o de não limitar o
desenvolvimento da narrativa à tensão entre os valores religiosos da família e
os desejos e atitudes de Danielita. A tia de Daniela, paciente terminal de
câncer, cumpre o papel de contrapeso, ao influenciar sua irmã a diminuir a
pressão sobre a sua sobrinha, e de referência, em função da proximidade entre a
tia a sobrinha e da confiança mútua. As cenas entre tia e sobrinha
configuram os momentos de equilíbrio emocional e de racionalidade e uma válvula
de escape para a protagonista e para o público.
A atuação
de Alicia Rodriguez é espetacular, muito bem amparada pela atuação de todo o
elenco, como na sequência final, desde a cena em que tudo é revelado entre
Daniela, Tomás e Antônia, passando pela descoberta da mãe de Daniela e sua
reação colérica, pela cena de Daniela vagando desorientada, até o desfecho no
ônibus. Trata-se de uma sequência catártica e muito bem dirigida que faz o
público envolver-se de forma definitiva com o destino dos personagens.
Por fim, é
não é possível escapar da comparação de Jovem
Aloucada com os filmes de Lars Von Trier. Jovem Aloucada baseia
sua narrativa em capítulos que correspondem aos títulos de seus
"posts" no blog homônimo, correspondendo a uma versão jovial e
digitalizada da estrutura narrativa dos filmes de Von Trier. Cada
"post" equivale a um capítulo que amarra a narrativa.
Para além
da estrutura narrativa, Jovem
Aloucada reflete uma visão
pessimista do mundo e do ser humano, realiza críticas contundentes à religião,
desenvolve uma personagem trágica que sofre as consequências da irracionalidade
e da hipocrisia humanas, como diversas personagens femininas de Von Trier.
Essas semelhanças, entretanto, não comprometem a originalidade de Jovem Aloucada e em nenhum momento ofuscam o
grande trabalho de direção realizado por Marialy Rivas (cujos trabalhos
buscarei conhecer e acompanhar a partir de agora).
Posso
afirmar, com toda a segurança, que, ao tratar da
sexualidade retratando o sexo de forma fria (não espere ficar excitado com as
cenas), porém natural, Jovem
Aloucada alcançou resultado melhor do que o polêmico Ninfomaníaca, de Von Trier.
Jovem Aloucada conseguiu em 96 minutos aquilo que Lars Von Trier tentou e
apenas quase conseguiu nas 6 horas de Ninfomaníaca-
e não é fácil fazer uma afirmação desse tipo sobre meu diretor favorito.
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